“O Nosso Paraíso”
On 12/09/2012 by Fernando Miguel SantosPRODUZIDO POR PAULO BRANCO E REALIZADO POR GAËL MOREL, ESTÁ DISPONÍVEL EM DVD FAZENDO PARTE DA COLECÇÃO LEOPARDO FILMES
FERNANDO MIGUEL SANTOS, 12 de Setembro 2012, na revista Rua de Baixo
“Notre Paradis”, no original, conta a história de Vassili, um prostituto homossexual que encontra Angelo no Jardim de Bolonha, em Paris, abandonado e ferido. Assim se inicia um relacionamento ardente e consumidor, onde os dois prestam serviços aos clientes que contactam Vassili. Estes, acabando por preferir Angelo por ser mais novo e mais atraente, acabam por despoletar a tentação do casal em ir além do pagamento que estava previsto.
Num rol de acontecimentos que se desenrola a uma velocidade alucinante, Vassili e Angelo começam a roubar os seus clientes. No entanto, o instinto assassino de Vassili não se satisfaz com a simples tomada de posse dos bens daqueles que os maltratam a troco de dinheiro.
Seguido por um rasto de sangue, que não consegue deixar nem a pedido de Angelo, Vassili decide fugir de Paris acompanhado pelo seu amante. Recorrem a Victor, o primeiro cliente de Vassili, um velho rico retirado da vida agitada da cidade. E é na mansão de Victor que a sua ambição acabará por atropelar o desejo de deixarem para trás uma vida de subjugação e fuga.
Produzido por Paulo Branco, “O Nosso Paraíso”, de Gaël Morel, é um filme absorvente sobre uma realidade dura. Decorado com uma banda sonora apelativa e fruto de uma narrativa que prende o espectador e o enreda numa tecitura de acções condenáveis que acabam por despertar empatia, é uma produção que nada deve aos melhores contemporâneos do Cinema Europeu.
A temática da decadência pelo envelhecer, que tanto atormenta as mentes ocidentais, está presente de uma forma constante na personagem de Vassili que perde clientes para Angelo, o seu amante. Também Victor, o primeiro cliente de Vassili, se encontra perante um fosso cavado pela diferença de idades entre si e o seu amante, algo que nos remete para a noção de prioridade divergente entre gerações.
A inconsciência de Angelo, que não tem passado, a par da violência de Vassili, que não lhe oferece futuro, transmitem um equilíbrio que é simultaneamente fracturante e apaixonante.
A percepção de uma realidade paralela, como é o mundo da prostituição homossexual masculina, que se encontra presente no nosso quotidiano, oferece-nos perspectivas de desejos, ambições e segredos pérfidos sobre os quais não temos, normalmente, qualquer tipo de opinião.
A realidade do filme encontra-se, fundamentalmente, na humanidade das personagens que, sendo criminosos, guardam em si ainda a capacidade de amar. Isto, que nos remete para a noção de que ninguém é totalmente mau ou definitivamente bom, é mostrado pelo contraste entre os assassinatos de Vassili e a forma como este trata Angelo e o pequeno Vassili, filho da sua melhor amiga que o baptizou em honra daquele.
O final, consumação das consequências acarretadas por um percurso obscuro, desperta-nos o sentimento de que a impunidade até aí vivida pode ser desmantelada pelo mais pequeno mal-entendido e a noção de que a busca incessante do prazer pode, por precipitação, tornar-se na mais dura manifestação de dor.
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