Que sorte tenho

Hoje o céu está em festa. Lança confetis brancos, criando um manto alvo como o teu vestido, há seis meses. Nesse dia, o do nosso casamento, foi ao contrário. Previa-se chuva e eis que o céu se abriu num esplendor luminoso, o sol a beijar a relva do nosso caminho até à promessa de união eterna. Também esse trajecto estava pontilhado de branco, um tapete de pétalas que contrastava com o verde a perder de vista e que recebia a nossa primeira dança de casados ainda antes de pisarmos a pista. 

Caíam bolinhas de sabão, da mesma forma que hoje os flocos voam para se pendurar em ramos, para cobrir o chão, para desafiar os passos de quem passeia. Noutro lugar está sol, é certo, e nós já vimos imensos sóis. Já vimos outras neves, deixamos os passos marcados noutras paragens, brancas como esta ou feitas de dunas douradas e acobreadas. A vida é como esses solavancos das dunas. Às vezes, também assusta como a imensidão do deserto ou de um silêncio. 

Mas como podia o céu não celebrar connosco, lançando os seus confetis inesperados, se assiste a este espectáculo que ambos vamos construíndo? Poder-se-ia dizer, brincando, que é caso para não ser deixado em branco. Reflectida na claridade da tapeçaria cândida que lá fora se estende está uma mensagem indelével, que ficará para sempre, mesmo depois desta neve derreter. Uma mensagem de sorte.

Sim, que sorte tenho de te ter ao meu lado. Que sorte tenho que me ouças em todos aqueles momentos que registei nos nossos votos. Que sorte tenho que a proximidade se acentue nas distâncias, que o carinho se multiplique nas dificuldades, que o amor se construa a dois – e a três – e que a palavra família se tenha consubstanciado contigo. 

Que sorte tenho, meu amor, por te ter sempre comigo, quer chova ou faça sol, quer o verde se destape para se bronzear no verão ou se cubra com um cobertor branco no inverno. 

Que sorte tenho de me sentir assim amado. Que sorte tenho de poder amar assim.

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